Valor é impulsionado pela redução da produção, aumento da demanda e custos elevados de insumos
Nas últimas semanas, o preço do ovo tem aumentado consideravelmente nos supermercados de várias cidades, assustando consumidores e causando preocupação entre produtores e economistas. Esse aumento, que chega a atingir 40% em algumas regiões, está deixando uma marca no bolso do brasileiro e gerando discussões sobre suas causas.
O produtor de ovos de Içara, Fabiano Bortolatto, aponta que o aumento de preços pode ser explicado por uma série de fatores naturais e climáticos que impactam diretamente a produção. “Eu acredito que o aumento se dá por vários fatores: o primeiro é o fator natural, já que no mês de fevereiro as aves trocam a plumagem, com isso cai a produção”, explica. Segundo Bortolatto, o calor acima da média na região também tem sido um fator crucial para a queda na produção. “Nossa região está sofrendo com pelo menos 5ºC acima da média. Isso também faz cair a produção”, afirma.
Demanda
A troca de penas das galinhas e o calor excessivo diminuem a capacidade produtiva das aves, impactando a oferta de ovos no mercado. No entanto, Bortolatto destaca que o aumento de preços também está ligado a fatores sazonais, como a volta às aulas. “Os nutricionistas recomendam muito o uso de ovo para alimentação escolar nessa época e, com isso, a demanda aumenta”, destaca. Ele acredita que a alta de preços será reduzida após a quaresma, se não houver problemas sanitários, como a gripe aviária que ocorre nos Estados Unidos. “O preço deve cessar depois da quaresma e a expectativa é de uma queda de pelo menos 15% a 20% em relação ao que está sendo praticado atualmente”, afirma.
O proprietário de uma rede de supermercado de Criciúma, Ricardo Althoff, confirma a visão de que a produção de ovos sofreu uma redução no início de 2025, o que elevou os preços. “A produção de ovos cresceu em 2024, derrubando os preços por meses, mas a virada veio no início de 2025. Com a menor demanda durante as férias e estoques altos, os produtores descartaram poedeiras mais velhas, reduzindo a oferta”, explica Althoff.
Ele também observa que a demanda aumentou com a volta às aulas, o que intensificou ainda mais os preços. “Em fevereiro, o consumo voltou a crescer com a volta às aulas, impulsionando os preços, tendência que se intensificou com a proximidade da Quaresma”, diz o empresário. Além disso, os custos de produção, como o milho, a soja e as embalagens, também subiram, o que permitiu que os produtores repassassem esses aumentos aos consumidores. “O aumento do ovo em 2025 foi de quase 40% em muitas cidades”, concluiu.
Gripe aviária e efeitos no mercado global
O impacto da gripe aviária nos Estados Unidos também é um fator importante que influencia o preço do ovo no Brasil. O economista Enio Coan explica que a crise de oferta de ovos nos Estados Unidos têm pressionado os preços no mercado global. “A alta do preço do ovo no Brasil é consequência da crise de oferta do produto nos Estados Unidos em função de uma gripe aviária ocorrida lá. Os Estados Unidos estão sacrificando um bilhão de aves do plantel de poedeiras do país, para tentar controlar a doença nos aviários.”
De acordo com Coan, essa redução na produção americana levou a um aumento nas exportações de ovos brasileiros, o que acabou pressionando os preços internamente. “A exportação brasileira de ovos para os Estados Unidos aumentou muito e acabou pressionando os preços daqui pela queda na oferta”, observa. O especialista aponta que isso criou um cenário no qual o preço do ovo no Brasil está praticamente “dolarizado”, ou seja, segue a dinâmica do mercado global.
Insumos
Além do efeito da gripe aviária, o doutor em economia, Alcides Goulart, aponta que o aumento nos custos dos insumos, como o milho e a soja, também tem contribuído para a alta nos preços dos ovos. “O que tem se analisado é que tem a ver com vários determinantes. Um deles é o aumento dos custos dos insumos de alimentos para a galinha, já que esse animal é basicamente alimentado com milho e o preço do milho aumentou de forma substancial”, afirma Goulart.
Segundo o economista, o aumento no preço do milho tem relação com questões climáticas, como a quebra de safra, além das exportações. “Quanto mais exporta, mais falta no mercado interno e mais aumenta o preço”, destaca Goulart. Ele também observa que a alta nos preços da carne e das proteínas, como resultado das exportações aquecidas, tem gerado um efeito de substituição de consumo. “Quando há um aumento dos preços de carne, há uma substituição para o consumo de ovos como fonte de proteína.”