Uma não tão nova teoria política
Afetos nutridos que alimentam uma ilusão, foi assim que finalizamos o nosso último artigo, na quarta-feira passada. Pois bem, estamos tratando da estrutura ideológica e os mecanismos que possibilitam a materialização de um “novo regime”, exercendo controle e hegemonia sobre os continentes e as pessoas.
Vale deixar registrado, já não era para menos, sobre boa parte dos acontecimentos internacionais, no cenário geopolítico, sem receio de parecer um palpiteiro de geleia, a definição do quadro explanado até o momento, nos dá conta de apontar, que de fato, todo o processo russo está além de sua própria definição.
Neste sentido já apontava o professor Olavo de Carvalho, sobre a mentalidade revolucionária (um sentimento organizado que se sobressai em relação a simples realidade, natural e orgânico), de que a “(…) mentalidade revolucionária” é o estado de espírito, permanente ou transitório, no qual um indivíduo ou grupo se crê habilitado a remoldar o conjunto da sociedade – senão a natureza humana em geral – por meio da ação política; e acredita que, como agente ou portador de um futuro melhor, está acima de todo julgamento pela humanidade presente ou passada, só tendo satisfações a prestar ao “tribunal da História”.
Nestas condições, podemos perceber na História, inúmeros acontecimentos, sobretudo nos últimos três séculos, um padrão na narrativa, que evidencia esse anseio, sua manifestação e consequências. Em linhas gerais se trata de criar o caos e a destruição, na pretensão de querer salvar a civilização.
Em artigo publicado, em 23/05/2011, sobre o título, “O futuro que a Rússia nos promete”, o referido professor identificava que esta atitude é uma constante no discurso revolucionário. Relembremos por exemplos alguns momentos na História.
Em suas palavras, “(…) a Revolução Francesa prometeu salvar a França pela destruição do Antigo Regime: trouxe-a de queda em queda até à condição de potência de segunda classe. A Revolução Mexicana prometeu salvar o México pela destruição da Igreja Católica: transformou-o num fornecedor de drogas para o mundo e de miseráveis para a assistência social americana. A Revolução Russa prometeu salvar a Rússia pela destruição do capitalismo: transformou-a num cemitério.
Já a Revolução Chinesa prometeu salvar a China pela destruição da cultura burguesa: transformou-a num matadouro. A Revolução Cubana prometeu salvar Cuba pela destruição dos usurpadores imperialistas: transformou-a numa prisão de mendigos. Os positivistas brasileiros prometeram salvar o Brasil mediante a destruição da monarquia: acabaram com a única democracia que havia no continente e jogaram o país numa sucessão de golpes e ditaduras que só acabou em 1988 para dar lugar a uma ditadura modernizada com outro nome”.
De todas estas informações, com a constatação de seus resultados, podemos perceber como o próprio Dugin (mentor por trás de Putin), se configura nestas pretensões. Segundo a sua Quarta Teoria Política, é preciso reunir o que funcionou das antigas teorias, e ir mais além, para transformar o homem, no seu próprio fim, ou melhor, no mediador de uma mensagem carregada “de esperança, plenitude e razão”, a custa de uma imposição e controle.
Por sua própria natureza, a mentalidade revolucionária é sanguinária e totalitária, independente do seu conteúdo ideológico, sobre as diferentes ocasiões e circunstâncias em que se apresentam, ou melhor se apropriam. Ao cabo e ao fim, a pergunta que ressoa em nosso tempo: Quem será o homem da perdição, que das ruínas que criou, surgirá para engalfinhar a muitos, com seu “ar de salvador?”.