Diário O Município

Entre a liberdade e a tirania: o caso do Iluminismo

Hoje o subjetivismo triunfa. Os princípios da Revolução Francesa, filha do Iluminismo, espalharam-se por todo o mundo, com todas suas lastimáveis consequências. O subjetivismo triunfa hoje porque o ceticismo venceu no século XVIII, e a vitória do ceticismo é o triunfo do espírito moderno, que ao repudiar a luz do conhecimento lançou o mundo nas mais profundas trevas.
Esta é a conclusão do professor Ronaldo Mota em seu artigo “O Iluminismo – Trevas na época das luzes”. Hoje caro(a) leitor(a), iremos conhecer brevemente algumas características deste período, que dá início ao nosso terceiro e último bloco sobre a formação politicamente incorreta do Ocidente, a saber, o Iluminismo.
Basicamente, o Iluminismo foi um movimento que surgiu na Europa entre os séculos XVII e XVIII. Um movimento que se estendeu nas áreas, intelectual, filosófica, cultural e econômica. Diversos temas foram abordados por seus pensadores, tais como: o fim do antigo regime, a liberdade política, econômica e individual, a valorização da razão e da ciência.
A referência dada como, “filósofos das luzes”, ou “iluminados”, vem da autoproclamação dos filósofos que compunham o movimento, por se considerarem portadores da verdade e da razão. Um ponto importante a ser destacado, é o fato de considerarem o pensamento escolástico (que uniu fé e razão, teologia e filosofia), como algo mergulhado nas trevas de um dogmatismo religioso (sobretudo a fé católica).
Assim, julgavam-se portadores da luz da razão humana, e sua tarefa era iluminar as mentes humanas, afastando-as, das trevas da ignorância. Normalmente nos é apresentado como a época em que trinfou a razão. Em livros de história geral, podemos encontrar afirmações semelhantes às que o historiador José Jobson Arruda destaca.
De acordo com o autor mencionado, “(…) os escritores franceses do século XVIII provocaram uma verdadeira revolução intelectual na história do pensamento moderno. Suas ideias caracterizavam-se pela importância que davam à razão: rejeitavam as tradições e procuravam uma explicação racional para todas as coisas”.
Na realidade, o que está dito, é uma distorção e simplificação, um reflexo grosseiro diante das afirmações dos principais autores desta época. A exemplo de Voltaire, que declarou (após lembrar-se que as grandes descobertas cientificas foram feitas antes de Francis Bacon (1561-1626): “foi na época da mais estúpida barbárie que essas grandes mudanças foram feitas sobre a Terra: só o acaso produziu quase todas essas invenções e parece que até mesmo o que se chama acaso participou muito da descoberta da América”.
Neste caso, parte do Iluminismo, a concepção que recebemos sobre a Idade Média, que de Idade das Trevas, nada tinha, senão, pelas dificuldades acarretadas e por precariedades que acontecem nos mais diversos períodos e experiências das sociedades humanas ao longo da história.
Bem, já num panfleto, O que é o Iluminismo, Emmanuel Kant(1724-1804), escreveu: “O iluminismo é a libertação do homem de sua culpável incapacidade. A incapacidade significa a impossibilidade de servir-se de sua inteligência sem o direcionamento de outro. (…) Sapere aude! Tenha o valor de servir-te de tua própria razão! Eis aqui o lema do Iluminismo. ”
Vejam só, para indicar alguns exemplos, as marcas, que o Iluminismo deixou na história da humanidade. Dentre elas, podemos citar: a razão é considerada o fator primordial e legítimo para alcançar a verdade e o conhecimento; o avanço da ciência e a crença de que ela é o único meio para o conhecimento; repúdio às crenças religiosas; desejo de eliminar todos os elementos sociais que remetem à monarquia, à nobreza, ao mercantilismo e à Igreja Católica e, o naturalismo (crença de que a natureza era capaz de explicar o comportamento da sociedade).
Em sua pretensão revolucionária, o Iluminismo irá proporcionar os ingredientes, inaugurando o tempo em que atualmente é possível rastrear, se de forma orgânica ou intencional, a forma “da mentalidade revolucionária”. Sobre este tema, o filósofo e professor, Olavo de Carvalho, definia, que a constituição deste tipo de mentalidade, é “(…)a compulsão irresistível de tomar um futuro hipotético — supostamente desejável — como premissa categórica para a explicação do presente e do passado (…)”.
Ora, o século XVIII, portanto, não foi o século das luzes, mas pelo contrário, foi o século que lançou as raízes das trevas subjetivistas e irracionalistas que triunfam em nosso mundo contemporâneo.