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A crise do mundo moderno: um início de conversa

Não é em torno de uma mesa, na solene e apressada reunião de uma conferência de paz, que, no termo das hostilidades, os chefes dos governos e dos exércitos encontrarão de improviso a fórmula de um reajustamento duradouro na nossa vida moderna, abalada até os fundamentos de sua estrutura humana.
Estas foram as palavras escritas no prefácio do livro, A crise do mundo moderno(2019), e que traz o título deste artigo. A obra foi escrita pelo padre Leonel Franca (1893-1948), tendo sido encarregado, no ano de 1939, de criar a primeira universidade católica do Brasil, a PUC-Rio, da qual foi reitor até a sua morte.
Hoje caro(a) leitor(a) convido você a adentrar nesta seara, apontando alguns indicativos desta constatação: a crise do mundo moderno. Por se tratar de um início de conversa, iremos nos ater ao que há de mais essencial neste processo, a saber, a compreensão de que todas as atividades humanas, queiramos ou não, são norteadas por uma visão filosófica da vida e uma metafísica.
Identificamos dois elementos que nos auxiliarão nesta empreitada, visão filosófica de vida e uma metafísica. É de séculos anteriores que a dissolução, ou o melhor seria, o divórcio se estabeleceu numa marcha ascendente sobre a humanidade, a da separação do fundamento transcendente, à implementação de uma ideia para o estabelecimento de um ‘mundo melhor’.
A consequência direta e que veio de forma vertiginosa, foi a crise das instituições, sobretudo, a inquietação das almas. Podemos até equiparar este mundo interior (das almas), das consciências, ao que vemos no aniquilamento dos fratricidas (a destruição de nossos semelhantes). Existe na alma humana, um anseio perene de nobres inquietudes, e que nenhum pretenso “progresso, é capaz de satisfazer.
Como filosofia, permeada por uma metafísica, o que se fundou no mundo é um enaltecimento e implementação, do transitório e passageiro, ao invés do que é eterno e imortal. O que está radicado na natureza humana, no seu íntimo, não encontra paralelo de satisfação e direção, no que foi construído pela humanidade. Há na terra apenas um marco que separa nossas necessidades e alinha com um propósito verdadeiro e duradouro (falaremos sobre isso em outra oportunidade).
A alma é o segredo, já dizia o poeta. Neste sentido é notório destacar que por vezes, surge na história das almas e dos povos, uma inquietude doentia, um desejo por uma bússola, “pra quem perdeu seu norte”. Talvez você não tenha perdido seu norte, mas certos princípios fundamentais vão sendo diluídos na sociedade, através de mecanismos que nos mantenham distantes do que é sadio, racional, real e verdadeiro.
Vejam só, um a um, derrubam-se os falsos deuses, porque no íntimo sabemos que algo não vai bem. Pode até parecer contraditório, para não criar confusão, categorizamos do seguinte modo: existe aqueles que vão em busca da verdade (querem entender a si e o mundo), e os que são conduzidos por aqueles que não querem que saibamos do que se trata.
Mas não há como negar, a dúvida se enraíza, e com ela, torturas e desesperos. Nos ficam então, neste cenário, questões fundamentais para respondermos a crise que se instalou. Para o padre Leonel Franca, questões como: “(…) qual o destino deste ser que tanto sofre e tanto aspira? Terá mesmo o homem um destino? E a vida, uma razão suprema de ser vivida?”, apontam a tragédia interior e consequente destruição da vitalidade interna da alma.
Esta é a tragédia interna da alma contemporânea que não encontrou seu fim, e que está distraída, ou quem sabe entorpecida no meio, girando em círculos. Ou no dizer de um escritor de nossos dias, vivendo o “drama de nossas ilusões desfeitas”.