O cordão de duas dobras: um país coordenando o mundo
Dando continuidade a nossa série sobre O sol negro da Rússia, hoje iremos pontuar o objetivo para entendermos essa ideia, e também definir o termo Eurasianismo e suas implicações na atualidade. Lembrando que o nosso objetivo não se trata apenas de uma mera compreensão das causas geopolíticas ou políticas no presente conflito a partir da Rússia.
Neste sentido, iremos destacar brevemente os aspectos históricos e teóricos da estrutura ideológica por trás da ação russa hoje no mundo. Vale destacar que o centro de nossa atenção é o Brasil, e isso por motivos óbvios, pois há um risco inerente a entrada dessa ideologia revolucionária no nosso país.
Para tanto, algumas perguntas necessitam de respostas. Dentre as perguntas podemos destacar: quais ideias fundamentam a geopolítica russa nos últimos anos? A verdadeira influência de Aleksandr Dugin? E as outras fontes ideológicas, esotéricas, geopolíticas e políticas, que atuam como impulsionadoras da expansão russa atual?
Comecemos pelo Eurasianismo, mas afinal, do que se trata? De acordo com o jornalista Cristian Derosa, “ (…) o Eurasianismo é uma ideologia política que surgiu na Rússia na década de 1920, e que propõe a formação de um estado eurasiano unificado que englobaria a Rússia, a Ásia Central e a Europa Oriental”.
Ainda segundo o jornalista, “(…) a ideia central do Eurasianismo é que a Rússia tem uma identidade única que combina elementos asiáticos e europeus, e que essa identidade deve ser preservada e desenvolvida. Por isso, a ideologia se associa muito mais a um tipo de imperialismo do que a um nacionalismo, posto que rejeita os conceitos de nacionalismo ocidentais e propõe a ideia de um “mundo russo”, isto é, um universo ligado por elementos como religião, cosmovisão, sociedade, elementos culturais e linguísticos, históricos etc…”.
Adotado pelo governo, o Eurasianismo foi utilizado como uma forma de justificar a influência russa sobre as nações vizinhas, exercendo um impacto significativo na política deste país, durante a era soviética. Na atualidade, por trás de Putin, existe uma figura com ares fraternais que vem conquistando o Ocidente, e que já se encontra em nosso país, adentrando as áreas de influência na sociedade, disseminando estas mesmas ideias.
O seu nome é Aleksandr Dugin, e nas suas próprias palavras, numa entrevista no ano de 2006, afirmou que sua formação ideológica, metafísica e política já estava plenamente definida por volta de 1981. Do que estava falando? Em uma pequena autobiografia disse: “Em 1981-82 eu já era um filósofo completo com minha própria agenda intelectual, com minha própria metafísica e ideologia. Percebi-me como um rebelde da Tradição no deserto da modernidade, um homem do submundo metafísico, preparando uma vingança apocalíptica – sem esperança e, ao mesmo tempo, inevitável”.
Repare o tom e a pretensão do ideólogo. Sem sombra de dúvida, ele aderiu ao sibilo da serpente: sereis como deuses. Esta é a chamada constante do apelo revolucionário, o de criar a ilusão, sobre a possibilidade de instaurar um Paraíso na terra. Dugin, defende a criação de uma nova ordem mundial multipolar liderada por uma aliança entre a Rússia, a China e outras nações não ocidentais.
Claro que este caminho está embrulhado num pacote bonito e com um discurso que atrai, pois alega o objetivo de restaurar o sentido da hierarquia dos valores espirituais que o mundo moderno soterrou. Para quem tem uma mentalidade religiosa, é cativante. Só que para isso, há duas etapas, a saber, a destruição do Ocidente através de uma guerra mundial e a instauração do Império Mundial Eurasiano sob a liderança da Santa Mãe Rússia. São muitas mortes até aqui, resta saber, quantas mais serão? E a pergunta que não quer calar: Quais afetos são nutridos para alimentar uma ilusão?