Diário O Município

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Quarto campo: a sociedade das multidões

Ao conhecermos e analisarmos a história, é possível identificar uma estreita relação, entre as ideias da inteligência humana e o estado social de um povo. Em certo sentido, somos o produto e o resumo de todas as épocas anteriores. Se realizarmos um exercício, sondando a nossa alma, encontraremos e distinguiremos estas épocas e o que nos legaram.
Para Fustel de Coulanges (1830-1889), comparando a história da Grécia e de Roma, o mesmo diz que ao colocarmos lado a lado, as crenças e as leis destas civilizações, nos é demonstrado “que as famílias grega e romana foram constituídas por uma religião primitiva, que esta estabeleceu o casamento e autoridade paterna, fixou os graus de parentesco, consagrou o direito de propriedade e o direito de herança”.
Por extensão de sua influência, “esta mesma religião, após haver difundido e ampliado a família, formou uma associação maior, a cidade, e nela reinou o mesmo modo que reinava na família. Desta se originaram todas as instituições como todo o direito privado dos antigos. Foi dela que a cidade extraiu seus princípios, suas regras, seus usos, sua magistratura”.
Hoje caro(a) leitor(a), adentramos no quarto campo, no desenvolvimento dos elementos que compõe a nossa construção e ampliação do horizonte de consciência em relação a sociedade, pois há num ordenamento mais amplo e interligado, e o crescimento de sua influência, nos aglutina, ao ponto de nos massificar.
Estamos falando, da sociedade universal. Sabemos que somos distintos em nossa diversidade cultural, linguística e social, só que até certo ponto, ao menos a esta altura do campeonato. O que quero dizer, ao afirmar isto? Bom, primeiro, que dois termos que já abordamos por aqui, são suficientes para ilustrar esta questão, a saber, a globalização e o globalismo.
Não há necessidade de nos determos muito nestes pontos, mas é importante saber que em relação ao primeiro, se trata de um processo orgânico e natural no desenvolvimento dos povos através das relações econômicas e comerciais, com alguns reflexos nos campos social e político. Já em relação ao segundo, se trata de uma ideologia, com iniciativas e fenômenos que visam criar uma rede de governança global.
Aqui reside o centro de nossa reflexão, pois, se por um lado, existe um movimento natural nas relações entre os povos, também estamos dentro de um sistema que foi pensado para guiar, ou melhor, controlar o mundo em uma direção. Pode parecer estranho, mas, a transição atual, deste século, tem demonstrando estas evidências, de forma acelerada e crescente.
Quem sabe ainda não chegamos a compreensão mais ampla deste crescimento, contudo, vou ilustrar com um recorte temporal. Em suas aulas de história, ou mesmo em filmes e séries, já foram retratadas a Revolução Francesa (1789-1799), inclusive mencionei em outros artigos escritos neste espaço.
Lembre-se, que estamos desenvolvendo a compreensão de como a sociedade e as pessoas recebem uma influência, e depois de certo tempo, não se dão mais conta de onde veio a matéria prima, a semente inicial que foi plantada e germinou, lhe condicionando.
Mesmo que tudo não saia completamente conforme o planejado, nesta empreitada globalizante, vem despontando cada vez mais, acertos precisos. É claro que há uma tendência às mudanças, entretanto, algumas são percebidas, outras “passam batidas” e outras mais, se camuflam (escondendo suas intenções).
Mas voltemos a Revolução Francesa. Para Gustave Le Bon, em Psicologia das Multidões, “(…) a Revolução Francesa, para citar apenas um dos exemplos mais expressivos, contou entre seus fatores longínquos as críticas dos escritores, as exações do Antigo Regime. A alma das multidões, assim preparada, foi em seguida facilmente mobilizada por fatores imediatos, tais como os discursos dos oradores e a resistência da corte em relação a reformas insignificantes”.
Com isso, encerramos o quarto campo, tendo agora aberto a possibilidade de enxergar um pouco dos bastidores desta trama. Nas próximas publicações serão desenvolvidos os três últimos campos, a saber, o bioético-jurídico, a conquista espacial/tecnológica e a batalha para dominar o futuro. Pode parecer filme de ficção. Mas afinal, já está tudo escrito, se sim, onde cabe a nossa parte e qual o seu/nosso propósito?